Em live
transmitida pelo Instagram ontem (22/04/2019) o Dr. Italo Marsili
(@italomarsili) trouxe um conceito sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar, o
da “fé metastática”, encontrado no livro “Ordem e história”, de Eric Voegelin,
que incute uma crença traduzida na seguinte frase: “tudo vai dar certo, se
ainda não deu certo é porque não chegou ao final”.
Trata-se
de uma crença, ou até mesmo esperança, de que um dia vai acontecer um estalo na
nossa vida e tudo ficará bem como num passe de mágica, pois a realidade desta
terra poderia se substanciar de repente numa ordem perfeita na qual reinará a
felicidade, onde tudo será mais belo.
Se não
cuidarmos, essa crença pode substituir a realidade em nossas vidas. Na
realidade em que vivemos sempre haverá alguma tensão ou algum problema.
Não se
trata de sermos negativos ou tristes, mas sim encararmos a realidade com todas
as suas imperfeições e lutar mesmo assim, pois depende de nós não deixarmos os
acontecimentos ruins da vida nos impedirem de viver, construir e seguir
cumprindo nossas obrigações.
O que
não podemos fazer é aguardar que um dia, como mágica, tudo fique bem e pronto,
não haverá mais problemas e sofrimentos. Com essa ideia, estaríamos dispensados
de fazer algo agora, produzir e amar, pois no futuro tudo estará bem,
independente de nossas atitudes no hoje.
Enquanto
esperamos uma “intervenção” que venha nos trazer alívio e soluções prontas, com
a transfiguração da realidade, estamos nos colocando no papel de merecedores de
uma grande bênção, em último efeito, uma salvação.
E qual
a relação disso com a vitimização? Explico. Onde não há ação não há resultado.
E se estamos esperando um grande clique, uma intervenção externa, não agimos; e
se não agirmos, o que acontecerá? Nada! E daí há grandes chances de nos
vitimizarmos. E quando nos tornamos grandes vítimas de nós mesmos, há menores
chances de alterarmos a realidade inicial da qual nos queixamos e que esperamos
que mude com um estalar de dedos.
O
primeiro passo para fugirmos desse padrão, portanto, é a identificação da
realidade, por mais duro que seja esse “confronto”. Sim, muitas vezes torna-se
um confronto. Temos que encarar que não somos tão bons quanto gostaríamos de
pensar que somos. Após a identificação, e sabendo que aquilo causa um incômodo
(pois se não causasse não estaríamos esperando aquele clique) vamos procurar os
meios de ação. Atenção, o grande perigo é se cansar nesse momento e desistir.
Procure um meio, ainda que não seja o melhor, e já o coloque em prática. Se não
for o melhor, no meio do caminho encontrará alguma atitude que seja mais
adequada, ou encontrará uma mudança mais benéfica. E, quando você menos esperar,
você deixou de ser vítima e passou a ser protagonista da sua história.