terça-feira, 23 de abril de 2019

Fé metastática e vitimização

Em live transmitida pelo Instagram ontem (22/04/2019) o Dr. Italo Marsili (@italomarsili) trouxe um conceito sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar, o da “fé metastática”, encontrado no livro “Ordem e história”, de Eric Voegelin, que incute uma crença traduzida na seguinte frase: “tudo vai dar certo, se ainda não deu certo é porque não chegou ao final”.

Trata-se de uma crença, ou até mesmo esperança, de que um dia vai acontecer um estalo na nossa vida e tudo ficará bem como num passe de mágica, pois a realidade desta terra poderia se substanciar de repente numa ordem perfeita na qual reinará a felicidade, onde tudo será mais belo.

Se não cuidarmos, essa crença pode substituir a realidade em nossas vidas. Na realidade em que vivemos sempre haverá alguma tensão ou algum problema.

Não se trata de sermos negativos ou tristes, mas sim encararmos a realidade com todas as suas imperfeições e lutar mesmo assim, pois depende de nós não deixarmos os acontecimentos ruins da vida nos impedirem de viver, construir e seguir cumprindo nossas obrigações.

O que não podemos fazer é aguardar que um dia, como mágica, tudo fique bem e pronto, não haverá mais problemas e sofrimentos. Com essa ideia, estaríamos dispensados de fazer algo agora, produzir e amar, pois no futuro tudo estará bem, independente de nossas atitudes no hoje.

Enquanto esperamos uma “intervenção” que venha nos trazer alívio e soluções prontas, com a transfiguração da realidade, estamos nos colocando no papel de merecedores de uma grande bênção, em último efeito, uma salvação.

E qual a relação disso com a vitimização? Explico. Onde não há ação não há resultado. E se estamos esperando um grande clique, uma intervenção externa, não agimos; e se não agirmos, o que acontecerá? Nada! E daí há grandes chances de nos vitimizarmos. E quando nos tornamos grandes vítimas de nós mesmos, há menores chances de alterarmos a realidade inicial da qual nos queixamos e que esperamos que mude com um estalar de dedos.

O primeiro passo para fugirmos desse padrão, portanto, é a identificação da realidade, por mais duro que seja esse “confronto”. Sim, muitas vezes torna-se um confronto. Temos que encarar que não somos tão bons quanto gostaríamos de pensar que somos. Após a identificação, e sabendo que aquilo causa um incômodo (pois se não causasse não estaríamos esperando aquele clique) vamos procurar os meios de ação. Atenção, o grande perigo é se cansar nesse momento e desistir. Procure um meio, ainda que não seja o melhor, e já o coloque em prática. Se não for o melhor, no meio do caminho encontrará alguma atitude que seja mais adequada, ou encontrará uma mudança mais benéfica. E, quando você menos esperar, você deixou de ser vítima e passou a ser protagonista da sua história.

Sejamos donos da nossa realidade, das nossas conquistas e, principalmente, dos nossos fracassos, tão importantes para a elaboração do contorno de nossas personalidades!

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